VELHAS FOTOS
MARIAH PONTES ©
Na gaveta álbuns, uma infinidade
dentro deles fotos soltas, descoradas, embaralhadas
vejo-as e tento organizar lembranças.
Olho na vidraça ao lado e vejo estampada verdadeira foto de início de inverno
e a chuva apressada escorre na fotografia
buscando a sofreguidão da terra.
Ausente de tudo, alma moribunda, passa ao largo de mim uma infinidade de mãos em concha
buscando reter a água
que não se detêm. É lagrima que irrompe da profundeza do olho
que espia fotos esquecidas, abandonadas na velha gaveta do armário.
As fotos cada vez mais se assemelham a cartas, embaralhadas de um jogo inacabado
muitas fotos, inúmeras visões, profusas cartas
guardadas
jamais desvendadas.
Uma dama... um rei. Entre eles sempre um valete
O rio de lágrimas escavacando a face arrastou o ouro
levou a espada.
No manusear das fotos, como cartas, uma cai, afasta-se de mim, disforme, desordenada,
vejo-a sem brilho, quase apagada, diante do espelho que pensei ser eu
não a reconheço.
de repente um pássaro molhado choca-se na vidraça
e morre
no chão do tempo estatelado, no ardor do vôo esmagado
qual sonho arremessado pela vidraça da vida
não há seqüência nas cartas as fotos guardam lembranças sem noção do tempo
nem do espaço
pura junção de elementos: presente, passado e futuro
sem cadência
sem presença
só ausência
só lembrança
O pássaro morto se levanta, o sonho desperta
Mas a realidade não retorna nada - guarda a seqüência do tempo
Na vidraça as estações se renovam
nas fotos lembranças, apenas lembranças
junto ao rei e a dama, na vida como nas cartas,
há sempre um valete.
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