terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ENSINAMENTO


Vejam este belíssimo poema da maravilhosa escritora brasileira Adélia Prado. Nascida em 1935 em Divinópolis – Minas Gerais, Adélia é um encanto para os apreciadores de poesia. Segundo Carlos Drummond de Andrade: “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis”.
Adélia poetiza o cotidiano com doçura, leveza, profundidade, simplicidade, beleza, encanto. Seus primeiros versos foram escritos em 1950, ano da morte de sua mãe. A mãe – e a saudade que Adélia sente dela – aparecem em muitos de seus poemas. É com extrema beleza que ela fala do amor (“essa palavra de luxo”, não nos esqueçamos) entre seus pais:



ENSINAMENTO

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão, deixou tacho no fogão com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

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